Sigmund Freud

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Era do Gelo!


Filme A Era do Gelo – O Esquilo e a Noz!

            Hilário e expressivo, o Esquilo da Pixar que faz parte do elenco do filme A Era do Gelo, em especial no último; me fez pensar na dialética do desejo, associando o personagem em sua eterna busca pela noz, que por vezes teve por muito perto, porem as voltas da frustração de perdê-la. Tão perto e tão longe!
            A voracidade para obter o objeto do desejo é explicita ao longo do filme. Juntamente com a fêmea da mesma espécie, a dualidade é predominante, a ambivalência entre o amar o oposto e ter o suposto objeto da fome e desejo de ambos. O que escolher afinal? A comida para o corpo ou a preservação da espécie? O desejo de completude, a sensação de ter nas mãos a satisfação completa!
            Na concepção dinâmica Freudiana isso é um dos pólos do conflito defensivo, o desejo inconsciente tende a realizar-se restabelecendo, segundo as leis do processo primário os sinais ligados as primeiras vivencias de satisfação. A psicanálise mostrou, no modelo do sonho, como o desejo se encontra nos sintomas sob a forma de compromisso.
            O esquilo grita, esperneia, percebe que perdeu algo que tinha uma representação forte, como um seio bom, postulado por Melanie Klein. Metaforicamente a noz possui o formato arredondado de um seio simbólico, acolhedor, uma fonte de prazer, algo que nos remete a pensar na libidinização materna. Aos prantos, ele percebe que não terá mais o objeto de desejo e conseqüentemente vivencia os limites da realidade. Assim, podemos dizer: principio de prazer x principio de realidade.
            Ambos buscam satisfazer a imago experenciada ou alucinada, uma busca frenética e compulsiva. Uma das partes supostamente parece ganhar, a fêmea, ao passo que o macho da espécie de volta A Era do Gelo, e observa ao longe seu troféu nas mãos da amada! Que conflito!
            Em 1884, Freud recorre a um verso de Friedrich Shiller para ilustrar a teoria das pulsões: “A fome representa as pulsões do ego.” Ou seja, servem de sobrevivência ao individuo, ao passo que o amor, evidentemente, era um nome polido para as pulsões sexuais que servem a sobrevivência da espécie.

Miriela De Nadai

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PSICANALISE E A SELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL.


            “Tantos milhões em ação salve a seleção”!
    Garrincha, Pelé, Tostão, compunham a seleção Canarinho.
            Ao pensar neste pássaro, me vem à mente a idéia de liberdade, um amarelo que instiga e alimenta a fome de vitória, amor pela pátria, a defesa da torcida rumo à taça.
            Ainda muito pequena, lembro-me como era torcer pela seleção. Era verdadeiro, genuíno! Tinha emoção, desejo, amor semelhante ao de uma mãe pelo seu pequenino bebe que chora de fome, sempre em busca de uma suposta completude, e sua mãe o atende prontamente.
            Freud descrevia o desejo como a busca da completude, que nunca iremos achar um objeto que nos complete, a experiência de satisfação não é constante em nossa mente! O desejo é imortal, escolhe seu objeto e precisa testar a realidade.
            O que acontece hoje com os torcedores da seleção brasileira é uma grande frustração, e esta sim trouxe a luz o encontro da mesma com a realidade. Nossa seleção não é mais a mesma, os jogadores estão seduzidos pela fama, dinheiro e o futebol internacional; interessados em que os outros países têm a oferecer e não o nosso! Sentem-se onipotentes e intocáveis.
            Isto posto, penso que a nossa feijoada não enche mais o bucho destes “despatriotas”. Nosso “país Hermano” pode ser arrogante e narcisista, mas ama sua camisa! Chora e sente orgulho de torcer pelo seu país; sente amor pelos jogadores. Confesso-lhes: _ A Copa do Mundo sem “eles” não teria graça; seria como se Adão não tivesse Eva, esta rivalidade não é instigante!? Intrigante....
A frustração e o encontro com a realidade da torcida canarinho talvez faça esquecer a rivalidade e tente identificar-se com os objetos e a busca de completude de nosso país vizinho; embora nunca se satisfaça completamente e também se frustre, a realidade deles é bem diferente. Creio que provar desta maçã não seria tão pecado assim, seria um aprendizado, e que tal rivalidade seja uma defesa onipotente de ambos os lados. Por traz deste sentimento de ódio exista algo além da realidade, algo que possa afirmar que o oposto é sempre verdadeiro. A torcida brasileira esta parecida com um bebe em época de desmame: DESPEITADA!
            Sem o peito materno, o colo, sentindo-se completamente abandonada. Destarte isso passa; para um bebe isso é fundamental para um bom desenvolvimento, quiçá sirva de lição e amadurecimento a Seleção Brasileira de Futebol. Por enquanto o que apenas esta nos encantando é a Sub-20!!!!

Miriela De Nadai 

domingo, 14 de agosto de 2011

Convite!



ENCONTRO PSICANALÍTICO NO IPCAMP.


A Histeria e o Amor.
Palestra com Adriana Campos de Cerqueira Leite.


Psicóloga e Psicanalista. Doutora em Psicanálise e Psicopatologia Fundamental pela Universidade de Paris VII e Doutora em Saúde Mental pela UNICAMP.
Interessa-se há alguns anos pela histeria e mais amplamente por questões ligadas ao feminino. Atua em consultório particular.


DATA E HORÁRIO: 26/08/2011 às 20hs.


LOCAL: SPCAMP – RUA FREI ANTONIO DE PÁDUA, 1028 – JD. GUANABARA - Campinas/SP.


CONTATO: JANE – (19) 3295 4772  ou  contato@spcamp.com.br


INGRESSO: SÓCIOS DA SPCAMP GRATUITO.
CONVIDADOS: R$ 10,00.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Para pensar!

Se escutarmos com afinco as acusações que o paciente se faz, chega um momento em que não é possível evitar a impressão de que as mais violentas correspondem
muito pouco a sua própria pessoa e, muitas vezes, com pequenas modificações,ajustam-se a outra pessoa a quem o paciente ama, amou ou deveria amar (Freud [1917] 2006: 245).

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ausencia!

Peco desculpas por tanto tempo sem escrever! Mas logo retorno! Muito trabalho e estudos!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Relembre os Atos Secretos no Planalto Central... Compulsão a Repetição?

Para pensar e refletir sobre nossa condição humana, cidadania e os atos secretos!

Trago a luz os últimos acontecimentos em nosso “Planalto Central”. Atos secretos! Que na verdade hoje já não mais tão secretos assim! Nem para mim, para você, para ninguém! Ninguém é cego, não é? Ou será que José Saramago previa estes atos ao escrever o livro “Ensaio sobre a cegueira”, e acrescenta (..) “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
Acredito que citar nossa grande interprete Ellis Regina seria mais que pertinente para ilustrar este momento de desconforto e indignação diante daqueles que representam nossa nação. Num trecho da musica “Como nossos pais”, escrita por Belchior, podemos observar a confirmação de conflitos que passam de pais para filhos, passam de geração a geração, a dor de nada poder fazer para mudar uma situação, uma alienação.. Segue:

“Você pode até dizer que eu tô por fora, ou então que eu tô inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Tá em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”!

No caso destes atos secretos, além de conflitos transgeracionais, existe a onipotência de um Coronel que se livra de punições legais de um lado mas alimenta um ego inflamado de poder e liberdade de outro, se dizendo perseguido, alvejado sem razões concretas!
Convido a todos a lerem ou assistirem “Ensaio sobre a cegueira”, para que possamos pensar sobre a essência humana e até que ponto vale a pena “enxergar atos secretos”. É assim que os homens verdadeiramente são? É preciso cegar-se todos para que enxerguemos a essência de cada um?
Onde está o movimento social “Caras Pintadas”, será que eles sabiam o que estavam fazendo na época? Aquele que na época dizia ter como meta acabar com os marajás está às voltas novamente no Planalto, e aí? Alguém lembra quem é? Esse já não é um amigo secreto, ou inimigo.... Basta refletir e exercer a cidadania com responsabilidade e informação!

Miriela De Nadai




Artigo sobre Narcisismo, aprecie.

“A QUANTOS PASSOS DA LUA”.
           
            Há exatos 40 anos, em 20 de julho de 1969 o homem pisava na Lua. Arminstrong era o centro das atenções, noticiário nas televisões preto e branco e em todos os jornais do mundo.
            Enquanto isso aqui na Terra, no mesmo instante em Gary, Indiana nos Estados Unidos da América estava uma criancinha de 11 anos, de pele escura, evidenciando uma afrodescendencia; seriam acontecimentos semelhantes?
            ABC, 123 (...) cantava ele junto a mais quatro irmãos, era o então conhecido na época grupo The Jackson‘s Five. E o que era aquele “pequenino menino”? Dançava, representava, cantava e encantava, tinha estilo próprio; seria isso uma espécie de perfeição? E os pais desta criança? O que pensavam, o que viviam, o que esperavam? Esperavam por uma perfeição?
            Diz o anedotário popular que (...) “O Homem ideal deveria ser tão bonito quanto sua mãe pensa que ele é, tão rico quanto seu filho pensa que ele é, ter tantas amantes quanto sua mulher pensa que ele tem e ser tão bom de cama quanto ele mesmo pensa que é”.
            Penso que os pais dos Jackson idealizavam a si próprios nos filhos, projetavam desejos, sonhos, fantasias nos meninos, mas essa seria ainda a melhor versão, seria a verdade?
            Detenho-me agora ao Jackson Michael. De que sonhos, desejos e fantasias teria vivido este “sujeito”; digo “sujeito” pois aos 50 anos de idade não conseguia defini-lo como um adulto ou uma criança, branco ou negro, homem ou mulher! Este pequenino me pareceu um adulto enquanto era criança e uma criança enquanto era um adulto; um ser assexuado que tudo podia, tinha exclusividades e excentricidades, um parque de diversões para seu bel prazer! Suas excentricidades não tinham limites, escolheu como seriam seus próprios filhos; cor dos olhos, cabelo, pele...
            Parece brincadeira escrever assim, mas uma característica marcante deste artista era a vida que levava em meio a idealizações e expectativas mágicas, uma mescla de decepções, sentimentos persecutórios e exibicionistas. Parecia uma pessoa que vivia entre um “eu” e o “não eu”, entre si e os outros, onipotente e ao mesmo tempo dependente, frágil!
            Michael vivia afrontando sua “imaginária completude” negava a todo tempo seu verdadeiro “self”, negava sentimentos e as verdades mais penosas e primitivas, buscando sempre a imensa necessidade de reconhecimento, buscava fetiches, como o de brincar com crianças em Neverland, sua Terra do nunca!
            A onipotência dele o levou a morte assim como a de Narciso na Mitologia Grega, que se afogou ao ver seu próprio reflexo na água. No palco da vida interpretava como ninguém, seu show era perfeito e talvez essa forma sublimada o fizesse sentir algum prazer genuíno. Michael não conhecia a realidade, criou seu próprio mundo de falsos prazeres, cheio de feridas e dores, se afogou sem saber ao menos quem era, se anestesiava da verdadeira realidade!
            Monmwalk era sua marca registrada, fazia aquele passo como ninguém, talvez o palco fosse a verdadeira vida dele, só atuando, atuando... Mas a quantos passos estaria ele da Lua? Penso que nosso satélite natural seria a única morada “concreta” para esta pequena, indefesa e polimorfa criança! Talvez ele e a Lua tivessem algo em comum; inabitável, só e cheia de fases; mas quando se encontra com o sol proporciona um espetáculo incrível! O Eclipse poderia dizer um pouco sobre a ambivalência deste “astro pop”: sentimentos que queimavam como o calor do sol, uma luz que encantava e iluminava como a lua, o adulto e a criança que nunca conseguiram se encontrar, o menino e a menina que não conseguiram definir-se, o claro e o escuro; a procura da perfeição que o levou a uma grande exaustão!

Artigo publicado no Jornal O Liberal em 25 de Julho de 2009 no Caderno Opinião do Leitor.
Autoria: Miriela De Nadai


sábado, 14 de maio de 2011

Filme e Psicanalise...

O Resgate do verbo.

Assista ao filme "O discurso do Rei", com Colin Firth, direçao de Tom Hooper.
O filme trata do encontro do futuro rei da Inglaterra com seu terapeuta, aborda a relaçao transferencial, fundamental para mover o paciente de sua paralisia sintomatica.
O futuro Rei sofre de gagueira, e protegido pela tecnica psicanalitica, durante as sessoes, o nobre ingles relaxa o corpo e solta a voz, grita seu odio, localiza seus medos e deixa aparecer um menino por vezes humilhado na infancia.
Bom filme!
Miriela De Nadai

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Filme do piloto de Formula 1 - Senna.

Bem, assisti ao filme Senna, na verdade um documentario.
Pensei, repensei; minha fantasia ao articular psicanaliticamente o documentario, percebi um comportamento altamente destrutivo no piloto. Senna deixava nitido que nao aceitava perder nenhuma corrida, era competitivo demais, perfeccionista.
Suas manobras eram arriscadas e sempre perigosissimas, mas ele tinha o dom de encantar os brasileiros e se orgulhava em levantar a bandeira! O povo precisava de um idolo para suportar as dificuldades que o Brasil enfrentava economicamente na epoca, e Senna encantava e encanta.
Destarte, anciava perfeicao, o perigo, e penso que passou a vida toda com sede de morte, querendo conhecer aquela que sempre o acompanhava nas periculosidades de sua profissao. A pulsao de morte se fazia perceber quando em todo acidente com outros pilotos, ver, observar, colocando sempre as duas maos na cabeça e no pescoço, andando de um lado para outro, parecendo impaciente e pensativo. Talvez um olhar curioso frente a um possivel desejo.
Na realidade, o que Freud procura explicitamente destacar pela "Pulsao de Morte" é o que ha de mais fundamental na noçao de pulsao, o retorno a um estado anterior e, em ultima analise, o retorno ao repouso absoluto do anorganico, Freud destaca que o principio do prazer parece estar de fato a serviço das pulsoes de morte, como principio economico da reduçao das tensoes a zero...
Sua rivalidade com Prost era interessante, membros da mesma equipe e nao se falavam, Senna nao aceitava estar fora do favoritismo, de ser o numero um, algo semelhante a "sua magestade o bebe"!
Convido a todos para assistir este filme, penso que Senna tinha um lado destrutivo e agressivo, talvez este esporte teria sido uma forma de sublimacao, e podemos encontrar a ideia de que a sublimaçao esta em estreita dependencia da dimensao narcisica do ego, de forma que encontrariamos, ao nivel do objeto visado pelas atividades sublimadas, o mesmo carater de totalidade que Freud atribui ao ego. Senna sabia de seu favoritismo, sua imagem era inabalavel, falava muito em Deus e do seu possivel encontro com ele, mas que sentido poderiamos dar a isso?
Ele morre justamente quando estava competindo com a melhor equipe, no auge de sua carreira, mas com uma temporada dificil e sem muitas vitorias. Senna bateu na curva Tamborello e ali talvez tenha encontrado o seu desejo. Seu corpo nao tinha um arranhao, a pancada teria abalado diretamente sua cabeça e pescoço, onde ele sempre colocava suas maos em momentos de tensao, acidentes da F1, medo e quiça voliçao.
Miriela De Nadai

quarta-feira, 4 de maio de 2011

"En" fezado?! Como assim?!

VOCE JA SE SENTIU ENFEZADO?

Como é sobejamente conhecido, o sistema gastrointestinal é muito sensível as emoções. Agora vamos esmiuçar a palavra "Enfezado".__ : En: Junto de, com; já o "Fezado".__: podemos pensar que carrega a fé e aprendizado. Para completar o sentido da palavra falta: fezes:- que são dejetos, detritos do nosso corpo, aquilo que ingerimos, tanto na questão alimentar, como o que temos que digerir em forma de cobranças, pressão e emoções. Portanto, "enfezado" é cheio de fezes, angustiado, torturado, aniquilado por algo que vem de fora, ansiedades ligadas a desejos e afetos.
Certamente você já ouviu alguém a sua volta dizer sem pensar: __ “Estou com o intestino preso", ou então, "isso é uma cagada", "não consigo engolir este fato" {...}
Parece estranho, mas para quem tem ou já teve problemas intestinais, como por exemplo, síndrome de Crown, retocolite ulcerativa {doença inflamatória crônica intestinal}, ulcera duodenal, fissuras retais, fistula, abscessos anais, diverticulite, etc.: de certa forma tem que aprender a lidar com a aceitação de ter a patologia, e não e nada fácil lidar com algo que machuca tanto fisicamente como psiquicamente!
Acredito que o intestino tem ligação direta as nossas agressividades contidas, intimidades, com todas as relações que despertam emoções. Seguindo esta linha de pensamento, a raiva, por exemplo, ao invés de ser projetada em outra pessoa é projetada em si mesmo de forma inconsciente e primitiva. A destrutividade fica toda no intestino, nas fezes, que Freud postulava ser o primeiro presente da criança para seus pais, usando a mesma como forma de controle. Esta foi chamada de fase anal do desenvolvimento libidinal.
Trancado no banheiro, evacuando o fétido, suando sob o que é dolorido, muitas vezes sangrando, a pessoa consegue colocar para fora seu ódio , raiva, competições e ao mesmo tempo o alivio de não ter agredido ou machucado alguém, fantasiando ter poupado todos ao seu redor de sua destrutividade. A agressividade se manifesta de forma inconsciente, a relação entre a mesma, intimidade e psicossomatica têm que ser levada em consideração. Não é fácil estar "enfezado". Difícil é a maldade que muitos defecam em cima dos outros por prazer, a verborragia em meio a tantos fracassos e fracassados. Relações familiares englobam afetos; a inveja e o ciúme estão extremamente vinculados as pessoas que adoecem enfezadas. Agora questiono:__ "Você já deixou alguém enfezado"?
Relações no trabalho, família, descontentamentos diversos, hereditariedade, luto, depressão, estão presente em nossa vida cotidiana, mas a partir do momento que se tornam dejetos e fezes reprimidas é o momento de refletir, dar descarga nas emoções e deixar a dor psíquica ir! É possível conciliar a dor física e psíquica, basta aceitar ajuda de profissionais e principalmente não ter receio, vergonha, constrangimento para entregar-se a uma probabilidade de cura.
"Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é" (Dom de Iludir - Caetano Veloso).

Miriela De Nadai


Pulsão de Vida e Pulsão de Morte.

A vida e a morte.
 (Rubem Alves)


Era no tempo de toca-discos. Eu estava ouvindo um long-play com poemas de Drummond e Vinícius. Os perigos eram os riscos que fazem a agulha saltar. Felizmente até ali tudo estava liso sem pulos ou chiados. Era a voz do Vinícius, voz rouca de uísque e fumo. Chegou o poema “O Haver”, meu favorito, em que o poeta fazia um balanço da sua vida. O que restara.
“Resta essa capacidade de ternura, essa intimidade perfeita com o silêncio...”. “Resta essa vontade de chorar diante da beleza, essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido...”. “Resta essa faculdade incoercível de sonhar e essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas tomam por esperança...”
Começava, naquele momento. A última quadra, e de tantas vezes lê-la eu já sabia de cor as suas palavras, e as ia repetindo dentro de mim, antecipando o último verso que seria o fim, sabendo que tudo o que é belo precisa terminar.
O pôr-do-sol é belo porque suas cores são efêmeras, em poucos minutos não mais existirão. A sonata é bela porque sua vida é curta, não dura mais que vinte minutos. Se a sonata não tivesse fim ela seria um instrumento de tortura. Até o beijo... Que amante suportaria um beijo que não terminasse nunca?
O poema também tinha de morrer para que fosse perfeito. Tudo que fica perfeito pede para morrer. Depois da morte do poema é o silêncio. Nasceria então outra coisa em seu lugar: a saudade. A saudade só floresce na ausência.
A voz do Vinícius já anunciava o fim. Ele passou a falar mais baixo. “Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada, ela virá me abrir à porta como uma velha amante...”
Eu, na minha cabeça, automaticamente me adiantei, recitando em silêncio o último verso: “sem saber que é a minha mais nova namorada”.
Foi então, que no último momento, o imprevisto aconteceu: a agulha pulou para trás, talvez tivesse achado o poema tão bonito que se recusava a ser cúmplice de seu fim, não aceitava a sua morte, e ali ficou a voz morta do Vinícius repetindo palavras sem sentido: “sem saber que é a minha mais nova, sem saber que é a minha mais nova, sem saber que é a minha mais nova...”
Levantei-me do meu lugar, fui até o toca-discos e consumei o assassinato: empurrei suavemente o braço com o meu dedo, e ajudei a beleza morrer, ajudei-a a ficar perfeita. Ela me agradeceu, disse o que precisava dizer, “sem saber que é a minha mais nova namorada”. Depois disso foi o silêncio.
Fiquei pensando se aquilo não era uma parábola para a vida, a vida como uma obra de arte, sonata, poema, dança. Já no primeiro momento quando o compositor ou o poeta ou o dançarino preparam a sua obra, o último momento já está em gestação. É possível que a última quadra do poema tenha sido a primeira a ser escrita pelo Vinícius. A vida é tecida como as teias de aranha: começam sempre do fim. Quando a vida começa do fim ela é sempre bela por ser colorida com as cores do crepúsculo.
Não, eu não acredito que a vida biológica deva ser preservada a qualquer preço. “Para todas as coisas, há o momento certo. Existe tempo de nascer e o tempo de morrer”. (Eclesiastes 3.1-2)
A vida não é uma coisa biológica. A vida é uma entidade estética. Morta a possibilidade de sentir alegria diante do belo, morreu também a vida, tal como Deus no-la deu ainda que a parafernália dos médicos continue a emitir seus bips e a produzir zigzags no vídeo.
A vida é como aquela peça. É preciso terminar.
A morte é o último acorde que diz: está completo. Tudo o que se completa deseja morrer.

domingo, 1 de maio de 2011

Ambivalencia, verdade e escolha, psicanalisando....

A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta.

Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.

Cada um optou conformeseu capricho, sua ilusão, sua  miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)


"A ambivalencia é a presença simultanea, na relaçao com um mesmo objeto, de tendencias, de atitude e de sentimentos opostos, fundamentalmente o amor e o odio". (Laplanche e Pontalis - Vocabulario de Psicanalise).

O texto de Drumond nos mostra que escolher é algo ligado a abrir mao de alguma coisa, perder o que nao foi o escolhido, lamentar-se pelo decidir, enchergar apenas de acordo com a sua propria verdade, mas quantas verdades existem?
Verdade ou mentira; querer ou nao querer?
Ser belo ou feio?
O que querem as pessoas...

A Revolução Freudiana hoje.

Plinio Montagna Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Ex-presidente da Associação Brasileira de Psicanálise.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Palestra "Nada do que é humano me é estranho". (Fotos)

Obrigado a todos que participaram, ajudaram e compartilharam conhecimento. Fica agora a lembrança desta data e na fantasia de cada um sua identificaçao!

Palestra ministrada por:
Polyanna Polo e Rose Ferracini (Psicologas e Psicanalistas).

Em breve material da palestra disponivel no blog e por e-mail para os participantes!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mal estar na Civilização, será?!

CONTARDO CALLIGARIS (Psicanalista)

Somos culpados, mas de quê?
Pesquisa mostra que a culpa mais dolorosa é o lamento por não termos agido como queríamos

A MELHOR polícia do mundo não conseguiria manter a ordem se respeitássemos as leis só por medo da punição. A sociedade funciona (mais ou menos) porque infrações e crimes despertam não só a PM e a PF mas também nossa consciência: a perspectiva do arrependimento nos inibe.
O problema, como Freud constatou, é que a gente se culpa mais do que é necessário: enxergamos crimes onde não há, consideramos que nossas vagas intenções e nossos sonhos noturnos já são delitos e nos castigamos para aliviar os tormentos de nossa culpa. Seja como for, até os anos 60, o sentimento de culpa -necessário ou patológico e excessivo- parecia ser só isto: o arrependimento por ter desrespeitado uma norma ou uma autoridade.
Em seu seminário (um pouco críptico) de 1959-60 ("A Ética da Psicanálise", Zahar), o psicanalista francês Jacques Lacan propôs algo diferente: a culpa mais relevante e mais sofrida surgiria não por termos desobedecido a uma norma, mas por termos neglicenciado nosso próprio desejo, por termos desistido de agir como queríamos. Podemos nos arrepender de nossas transgressões, mas lamentamos, mais amargamente, as ocasiões perdidas.
Era uma pequena revolução no mundo da clínica. De fato, o sentimento de culpa é onipresente (ou quase), e as transgressões, em geral, são poucas. É lógico, portanto, que a culpa que nos atormenta seja sobretudo um efeito de nossa covardia (que é crônica), e não de nosso atrevimento (que é raro).
Pois bem, no ano passado, Ran Kivetz e Anat Keinan publicaram uma pesquisa que confirma experimentalmente a intuição de Lacan (que, claro, eles não leram): "Repenting Hyperopia: an Analysis of Self-Control Regrets" (Hipermetropia Pesarosa: uma Análise dos Arrependimentos do Autocontrole, "Journal of Consumer Research", vol. 33, setembro 2006).
Em três protocolos de pesquisa, Kivetz e Keinan confirmaram o seguinte: 1) todos condenamos as decisões que só enxergam o prazer imediato sem levar em conta as conseqüências futuras (desde comer a segunda fatia de bolo ou gastar dinheiro que não temos até cometer um pecado pelo qual responderemos na porta do purgatório); 2) mas essa condenação é fugitiva, efêmera: a longo prazo (depois de um ano, por exemplo), considerando a decisão que nos pareceu sábia (não comer a segunda fatia de bolo, não gastar, não pecar), o que prevalece é o arrependimento por ter perdido uma ocasião, por não ter agido segundo nosso impulso ou desejo.
Na metáfora ótica usada por Kivetz e Keinan, sabemos que nossos impulsos são míopes (só enxergam a satisfação do momento) e achamos certo agir como hipermetropes (o que, em geral, significa deixar de agir, focalizando e receando as conseqüências afastadas de nossos atos); a curto prazo, nós nos felicitamos por ter pensado no futuro, enquanto, a longo prazo, lamentamos ter sido hipermetropes e desperdiçado satisfações que estavam ao nosso alcance imediato.
Kivetz e Keinan sugerem uma explicação: a longo prazo, os atos passados são integrados numa espécie de balanço de nossa vida, em que devemos decidir se a corrida foi boa, se valeu a pena. Nesse balanço, o lamento pelas coisas que queríamos e não ousamos fazer pesaria mais que o mérito das "sábias" decisões que comandaram nossas desistências.
De qualquer forma, o fato é que o arrependimento por não ter escutado o desejo parece falar mais alto e por mais tempo do que o arrependimento por ter ousado transgredir. Seria aventuroso concluir que, para não se arrepender no futuro, a gente deveria atuar qualquer desejo.
Mas resta uma suspeita, ou melhor, uma lição: freqüentemente, as razões que mantêm nosso comportamento nos padrões esperados (obediência à ordem social, a nossos pais, à tradição etc.) são apenas racionalizações de uma covardia da qual nos arrependeremos um dia.
Para entender plenamente o alcance da pesquisa, esqueça a segunda fatia de bolo, os gastos e os pecadilhos (exemplos triviais usados na experiência) e pense em decisões cruciais de sua vida: uma mudança de carreira à qual você renunciou porque teria desapontado ou preocupado seus próximos, uma paixão amorosa que você calou porque teria encontrado a desaprovação dos mesmos. Pois bem, a longo prazo, essas desistências doem mais do que doeria a culpa por ter transgredido normas e expectativas, seguindo nosso desejo.
 
ccalligari@uol.com.br (C. Calligari escreve na Folha de São Paulo)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

TOC

No TOC ocorrem pensamentos obsessivos intrusivos, como por exemplo: a pessoa reza e vem pensamentos sexuais. No TOC pode haver uma co-morbidade.
Pode aparecer como medo de contaminaçao, mania de limpeza, obsessao da duvida, como processos de pensamento repetitivos de verificaçao (compulsao). Ex: "Fechei ou nao fechei a boca do fogao." (obsessivo) "Tenho que ir verificar."
(Compulsao= comportamento) e em alguns casos a necessidade de simetria e precisao = lentidao para sair perfeito (lentificacao).


Dica para assistir na TV: "Coleciondores - Intervençao" no canal a cabo A&E Mundo, toda terça-feira as 22:00h.
Dica de Filme: "Melhor Impossivel com Jack Nickolson"

Poesia de Carlos Drumond de Andrade relacionada ao Transtorno Obsessivo Compulsivo.

Minha mao esta tao suja
Preciso corta-la
Nao adianta lavar
A agua esta podre
Nem ensaboou
O sabao é ruim
A mao esta suja
Suja a muitos anos.

Carlos Drumont de Andrade


domingo, 3 de abril de 2011

Objeto Transicional

 

 

Objeto Transicional nas criancas e bebes segundo Winnicott.

Winnicott elabora uma teoria sobre o processo de maturação do ser humano baseado na observação e estudo do desenvolvimento dos bebês. A constituição da identidade do sujeito tem início nas primeiras semanas de vida, quando o bebê experimenta uma ilusão de onipotência por ter ao seu alcance tudo o que precisa: o seio, o calor da mãe e todos os cuidados.
Aos poucos, o bebê vai percebendo que há uma diferença entre a sua ilusão e a realidade. A primeira desilusão acontece quando ele percebe que o seio da mãe não faz parte dele e nem depende de sua vontade para existir. Manifesta-se, então, uma tentativa de manter-se iludido através da criação de um objeto simbólico da figura materna, chamado objeto transicional. A relação entre o bebê e o “objeto transicional” é denominada “fenômeno transicional” e acontece num espaço que tem o mesmo nome. A primeira criação de um sujeito é seu primeiro “objeto transicional”.
Na vida adulta, a “transicionalidade” é vivida em vários âmbitos: cultura, arte, ciência, religião, dentre outros. Os conceitos de “transicionalidade” e “criatividade” estão intrinsecamente relacionados. Desta maneira, o desenvolvimento dos bebês tem muito a revelar sobre a criatividade adulta na medida em que nossas experiências culturais, em geral, são produtos do desenvolvimento da “transicionalidade”.
Nenhum talento especial é requerido como condição para ser criativo. Antes disso, a manifestação da criatividade fortalece o sentimento de existência. Isto em função da máxima: “Ser, antes de fazer”, ou seja, para relacionar-se com objetos, o ser humano precisa construir sua identidade e reconhecer a permanência de sua existência. Assim, “ser” e “fazer” relacionam-se de modo que a criatividade é necessária, não só para resgatar os indivíduos dos estados de desilusão, mas para afirmar a própria existência do sujeito.

Umbigo do sonho



"Ainda nos sonhos melhor interpretados é preciso deixar amiúde um lugar em sombras, porque
na interpretação se observa que daí arranca uma madeixa de pensamentos oníricos que não se
deixam desembaraçar, mas que tampouco fizeram outras contribuições para o conteúdo do
sonho. Então esse é o Umbigo do Sonho, o lugar no qual ele se assenta no não conhecido.
... durante o sonho o Inconsciente não pode oferecer nada mais
que a força pulsionante para um cumprimento de desejo."
Sigmund Freud.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

“Folie à Deux.”

“Folie à Deux.”

A “loucura” dos outros também pode ser a nossa “loucura” se não discernirmos que eles estão “loucos”.
Pareceria de óbvia facilidade a contestação da afirmação acima descrita, se ela não se referisse a uma Psicose Induzida. Este tipo de perturbação psicótica, ou de alienação patológica da realidade, surge no encalço secundário de doença, ou seja, é derivada de um elemento patológico primário com ideação delirante que consegue fazer crer a esse segundo (ou mais) elemento(s) que os seus delírios são realidade e não produto psicótico fictício.
Por outras palavras, uma pessoa pode ficar “louca” por acreditar que a “loucura” (delírio) de alguém não o é quando de facto não passa disso.
Esta perturbação reúne as condições necessárias para aparecer quando uma pessoa tem um relacionamento próximo, de longa duração e com níveis elevados de resistência à mudança, com uma outra pessoa que tem uma perturbação psicótica com predomínio de ideação delirante.
Dentro das relações tipo, enquadram-se mais facilmente os casais (ex. marido/ mulher) e as relações familiares (ex. pai/ filho), não querendo dizer que outros tantos tipos de relacionamentos não possam ter as características fundamentais para o desenvolvimento desta doença.
Os conteúdos das ideias delirantes dependem das características de cada doente (primário) e podem ser dos mais diversos, tais como,
estar sob vigilância do “SIS”, “ET´s” terem entrado na sua mente controlando-a, existir uma guerra invisível que produz dores de cabeça e diarreia às pessoas, entre tantas outras ideias, tendencialmente bizarras.O que pode acontecer, por exemplo, é o conteúdo da ideação delirante ser tão credível e bem elaborado que uma pessoa próxima e susceptível à sua influência forte e directa chegar a acreditar durante anos a fio que essas ideias são realidade, corroborando, vivenciando e partilhando assim a “loucura” primária do indutor.



Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Albergari Jornal de a, 15/05/2007

quinta-feira, 31 de março de 2011

A Poesia complementa a Interpretação Psicanalitica.

Personagem do conto "O Anjo Rafael", de Machado de Assis, possui a "folie a deux", espécie de contágio mental.


Segundo a descrição científica original do distúrbio, publicada em 1887, ela é comum entre mulheres que vivem em ambientes isolados, em geral junto com a família.
Nesses casos, quando um membro da família desenvolve sintomas psicóticos, um ou mais parentes acabam "pegando" os sintomas, tendo ilusões, por exemplo.
No entanto, anos antes dessa descrição, Machado de Assis publicara o conto "O Anjo Rafael". Como o nome da história sugere, um dos personagens acreditava ser o anjo em questão.
Apesar de sua suposta natureza angélica, o sujeito tinha uma filha, com quem morava numa fazenda e para a qual buscava um marido. E a moça, estranhamente, tinha embarcado na fantasia do pai, conforme seu noivo percebeu. Ela só deixou de lado a ilusão três meses depois que o pai morreu, o que a levou a deixar a fazenda.
"A narrativa de Assis combina todos os elementos que depois seriam descritos por Lasegue e Falret [os descobridores "científicos" da "folie a deux". Ele vai além e descreve o efeito terapêutico de separar os indivíduos", escrevem os psiquiatras da USP.

Fonte: (Jornal Folha de São Paulo - Caderno Ciencia - 15/03/2011).




Paciencia e o trabalho psicanalitico.

Diva de Freud

"Em algum lugar da situaçao analitica, sepultado sob as massas de neuroses, psicoses e demais, ha uma pessoa que pugna por nascer. O analista esta comprometido com a tarefa de tentar ajudar a criança a encontrar a pessoa adulta que palpita dentro dele e, por sua vez, tambem mostrar que a pessoa adulta que ele é ainda é uma criança." (W. Bion)

Goethe (em Fausto) postulou: ___"Nem so a arte e a ciencia servem: no trabalho deve ser mostrado a paciencia."

Uma boa dica para assistir sobre este tema é serie que passa no canal a cabo HBO:- "Em terapia", passa de segunda a sexta as 20:00.

terça-feira, 29 de março de 2011

Criações de Fernando Botero






Obesidade

Fernando Botero :
O pintor e escultor Fernando Botero nasceu na cidade de Medellín na Colômbia em 19 de Abril de 1932.
Há quem não goste de suas pinturas e esculturas, outros tantos que vejam em sua obra uma apologia à obesidade. Mas a obra de Botero é uma releitura instigante dos ideais de beleza do Renascimento. Mais que isso, elas são uma prova de que o conceito de beleza é variável ao longo do tempo. Por isso é importante ressaltar a decisão de submeter-se a uma intervenção cirúrgica como uma opção pela saúde e não simplesmente pela beleza estética.

 
Na obesidade existem aspectos culturais, aspectos constitucionais familiares, como, por exemplo, o grupo musical brasileiro “Fat Family”, onde todos são obesos e utilizam-se da obesidade para tentar um caminho para a fama; e aspectos psíquicos, como a forma de enxergar e aceitar o próprio corpo e todas as suas implicações.
Bion (1967) diz que o pensamento, originalmente tem relação com o corpo, mais especificamente com as funções corporais (sistema respiratório, digestivo, excretório), onde haverá assimilação, discriminação, metabolismo (catabolismo e anabolismo). O bebe nasce e tem uma primeira experiência, uma realização, uma concepção com algo bom ou ruim e desta concepção os pensamentos podem se desenvolver.
 Os aspectos culturais nos mostram que atualmente a obesidade atinge cerca de 40% da população brasileira (70 milhões de pessoas) e já virou epidemia mundial, muitas vezes começa na infância, por causa de maus hábitos alimentares da família; estudos mostraram que 80% das crianças de pais obesos tornam-se obesas. Esse número baixa para 40% quando apenas um deles é obeso e para 7% quando nenhum dos dois apresenta obesidade; a chance de uma criança obesa se tornar um adulto obeso é de 40%. Esse número pula para 75% no caso dos adolescentes, por isso o melhor é prevenir desde cedo.
            Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em apenas duas décadas o número de crianças e adolescentes brasileiros com excesso de peso aumentou nada menos que 240%! Hoje, eles somam 15% da população infanto-juvenil. Muitos casos de obesidade aparecem acompanhados por psicopatologias como, por exemplo, a depressão, funcionando como uma forma de preenchimento de um vazio do nada, quanto mais a pessoa comer mais tentará preencher este vazio, ou mesmo pela necessidade inconsciente de ser notado, chamar a atenção dos outros pelo seu tamanho.
            Para Donald Winnicott (1979), a obesidade pode ser usada como camadas, como capas defensivas em relação ao mundo externo, as camadas de adipócitos, ou seja, a gordura em excesso pode ser correlata de um falso self corporal, ou seja, uma proteção para o verdadeiro self, isso geralmente acontece com o chamado “efeito sanfona”; geralmente a pessoa engorda e emagrece com facilidade, quando a pessoa obesa emagrece, ela tem medo de não ter mais a proteção da gordura (das capas defensivas contra o mundo externo) e volta a engordar novamente. Isso se constata em pesquisas onde 64% dos casos de cirurgia bariátrica, os pacientes retornam ao peso anterior ao da cirurgia. A gordura em excesso também pode funcionar como uma afirmação viril, tanto no homem como na mulher funciona como uma proteção inconsciente para a genitália, tentando evitar o contato sexual por timidez ou mesmo por aspectos religiosos ou por conseqüência de uma criação muito rígida. Pode se tratar de uma proteção contra a sexualidade ou algo que incomode e esteja inconsciente, e a terapia psicanalítica ajuda a pessoa entrar em contato com este medo de não estar protegido, de desamparo e talvez solidão, como se estar obeso fosse uma forma de se tirar de circulação, se trancar em si mesmo, nas suas dores.
Miriela De Nadai


sexta-feira, 25 de março de 2011

Documentario sobre Sigmund Freud da GNT, apenas um pedacinho.

http://www.youtube.com/watch?v=j8leuI3sPhQ

Fibromialgia e Psicanalise - Revista de Psicopatologia Latinoamericana

263
ARTIGOS
ano IX, n. 2, jun/2006
Thais Krukoski Marques e Silva Slompo
Leda Mariza Fischer Bernardin
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund
., IX, 2, 263-278
Estudo comparativo entre o quadro
clínico contemporâneo “fibromialgia” e
o quadro clínico “histeria” descrito
por Freud no século
XIX
Este trabalho tem como objetivo comparar o quadro clínico
contemporâneo Fibromialgia, com o quadro clínico Histeria, tal qual
descrito por Sigmund Freud no século
duas patologias no que se refere à descrição, sintomas, fatos e
tratamento. Serão também apresentados casos clínicos para ilustrar os
dois quadros e identificar possíveis semelhanças. A fibromialgia será
descrita através do discurso médico contemporâneo; já a histeria será
abordada através dos escritos de Freud. Por fim, defende-se a hipótese
de que a fibromialgia faz parte do quadro clínico da histeria, ou seja,
que os sujeitos diagnosticados com fibromialgia são, na verdade,
pacientes que apresentam sintomas histéricos.
XIX. Pretende-se explorar as
Palavras-chave
: Fibromialgia, histeria, psicanálise
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DE PSICOPATOLOGIA
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ano IX, n. 2, jun/20 06
Que coisa estranha é para o sujeito ter corpo.
Clarice Lispector
Introdução
Este trabalho é um estudo comparativo do quadro clínico
contemporâneo denominado “fibromialgia” e do quadro clínico da
“histeria”, tal qual foi descrito por Sigmund Freud no século
Na fibromialgia – literalmente, dores nas fibras musculares – o sujeito
é acometido por dores difusas pelo corpo. Em seus casos mais severos
a dor é tão forte que paralisa. Não existem exames que diagnostiquem a
síndrome; seu diagnóstico é baseado exclusivamente na queixa do paciente.
O fato de um corpo aparentemente são, mas que dói a ponto de paralisar
o sujeito, é realmente intrigante.
Intrigante também era a histeria para Freud: pacientes, na sua grande
maioria mulheres, com sintomas físicos que não podiam ser explicados
fisiologicamente. Enquanto a maior parte dos médicos tratava dessas
mulheres com desdém, Freud se propôs a escutá-las, a partir da seguinte
constatação: “Como se houvesse a intenção de expressar o estado mental
através de um estado físico; e o uso lingüístico fornece uma ponte pelo
qual isso pode ser efetuado” (Freud 1893, p. 43).
Freud percebeu que o sintoma físico era reflexo de um processo
mental que há muito estava reprimido, e proporcionava a suas pacientes
um lugar de escuta no qual esses sintomas eram trabalhados no sentido de
encontrar seu estatuto de palavra.
Certamente, as mulheres que Freud ouvia não são as mesmas dos
tempos atuais. Mais de um século se passou desde então; nem a mulher
ocupa a mesma posição social que ocupava no final do século
a sexualidade se apresenta do mesmo modo que à época da repressão
vitoriana. Mas será que as questões sobre feminilidade e sexualidade
mudaram tanto assim?
Curiosamente, cada vez mais novas patologias vêm sendo descritas,
como se o sintoma roubasse, de novo, o lugar da palavra.
XIX.XIX, nem
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ARTIGOS
ano IX, n. 2, jun/2006
Mas serão novas estas patologias? Ou apenas “repaginadas”, com a cara do
século
dos medicamentos reina absoluta, são necessárias novas doenças para que se
prescrevam novos medicamentos. Como afirma Charles Melman (2003), “os
laboratórios hoje escrevem a clínica das afecções neuróticas e psicóticas” (p. 116).
A partir deste estudo pretende-se indagar qual é o lugar da fibromialgia nos
dias atuais. Trata-se de uma questão para a medicina ou para a psicanálise?
Este trabalho se justifica pela sua importância social, clínica e ética. Nestes
tempos em que a premissa do “medicar, ao invés do falar” impera com toda sua
força, busca-se com a psicanálise um retorno ao Sujeito (
de calar o sintoma; falar do sintoma”.
A hipótese que se pretende estudar durante o desenvolver deste trabalho é
que a fibromialgia, tal como descrita nos dias de hoje, faz parte do quadro clínico
da histeria, ou seja, que os sujeitos diagnosticados com fibromialgia são, na
verdade, pacientes que apresentam sintomas histéricos.
XXI? Neste século do poderio econômico neoliberal, no qual a indústria), ou seja: “ao invés
O quadro clínico “Fibromialgia” sob o ponto de vista médico
A fibromialgia é uma síndrome crônica caracterizada por queixa dolorosa
musculoesquelética difusa e pela presença de pontos dolorosos em regiões
anatomicamente determinadas (Wolfe, 1990).
Outras manifestações que podem acompanhar o quadro são: fadiga crônica,
distúrbio do sono, rigidez muscular, parestesias, cefaléia, síndrome do cólon
irritável, fenômeno de Raynaud, assim como a presença de alguns distúrbios
psicológicos, em especial ansiedade e depressão. A depressão, por sua vez, está
presente em 25% dos casos de fibromialgia e 50% dos pacientes relatam
antecedente depressivo (Hudson & Pope, 1989).
Desde meados do século
que sugeriam o diagnóstico de fibromialgia. Em 1850, Froriep publicou casos de
pacientes que apresentavam contraturas musculares e dor a digitopressão em
diversas regiões anatômicas, sem, no entanto, caracterizar a presença de pontos
dolorosos. Em 1904, Gowers propôs o termo fibrosite para designar síndromes
dolorosas sistêmicas, ou regionais, nas quais observou uma sensibilidade dolorosa
aumentada em determinadas regiões anatômicas, com ausência de manifestações
inflamatórias, sendo que a fadiga e distúrbios do sono eram, por vezes, relatados.
Durante as décadas de 1950 e 1960 o termo fibrosite foi utilizado de forma pouco
específica, havendo diversos relatos de dores musculares referidas, uniformes
quanto ao padrão das queixas, porém diferindo quanto aos locais acometidos.
XIX já eram reconhecidas manifestações clínicas
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Muitos autores consideravam a fibrosite uma causa freqüente de dores
musculares, enquanto outros acreditavam tratar-se de um reumatismo psicogênico
relacionado à tensão emocional.
A fibromialgia não era considerada uma entidade até a década de 1970,
quando Moldofsky (1975), publicou os primeiros relatos dos distúrbios do sono
e dos achados polissonográficos, que deram margem a novas vertentes na
investigação etiopatogênica. O termo fibromialgia foi proposto em 1976 por
Hench, e em 1977, Smythe & Moldofsky propuseram critérios para o seu
diagnóstico. Os diversos estudos que surgiram, a partir de então, observaram que
uma grande parte dos pacientes com fibromialgia apresentava, em comum, regiões
anatômicas mais dolorosas salientando-se o epicôndilo lateral, a região
costocondral e os grupamentos musculares da região cervical.
Na década de 1980, a questão dos critérios diagnósticos foi bastante debatida
e consagrou-se a fibromialgia como uma entidade clínica.
Em 1990, o Colégio Americano de Reumatologia publicou um estudo
multicêntrico, realizado em 16 centros especializados nos Estados Unidos e
Canadá, por um período de quatro anos, que envolveu 293 pacientes com
fibromialgia e 265 controles, que apresentavam condições clínicas facilmente
confundíveis com a fibromialgia (Wolfe, 1990). Foram propostos, como critérios
diagnósticos para a fibromialgia, a presença de queixas dolorosas difusas,
abrangendo as regiões acima e abaixo da linha da cintura, bilateralmente, por um
período maior do que três meses e a presença de dor em pelo menos 11 de 18
pontos anatomicamente padronizados. Considerou-se positivo um ponto, quando
era referido desconforto doloroso no local, após digitopressão com intensidade
de força equivalente ao limite e 4 kgf/cm
Os estudos epidemiológicos para a determinação da prevalência da
fibromialgia são escassos (ibid., 1986), e até 1990 os dados eram conflitantes,
devido às diferenças entre os padrões de referência de cada serviço, aos diferentes
critérios diagnósticos utilizados, assim como às diferenças regionais entre as
populações.
A freqüência da fibromialgia é de 1 a 5% na população em geral (Jacobsson,
1989). Considerando os pacientes atendidos em clínica médica, a freqüência da
fibromialgia é em torno de 5%, o que corresponde a 2,1% dos atendimentos do
médico de família e a 7,5% dos pacientes hospitalizados. Na clínica
reumatológica, por sua vez, ela é detectada entre 14% e 20% dos atendimentos.
Na literatura nacional destaca-se o trabalho de Bianchi, Messias e Gonçalves
(Seda, 1982), que observaram a freqüência de “fibrosite” em 10,2% das
populações do Rio de Janeiro e Porto Alegre. Martinez (1992), além de confirmar
estes achados, evidenciou o impacto socioeconômico da fibromialgia já descrito
por outros autores.
2 com o uso de dolorímetro.
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A fibromialgia é mais freqüente no sexo feminino, sendo 73 e 88% dos casos
descritos nesse sexo. Em média, a idade do seu início varia entre 29 e 37 anos,
sendo a idade de seu diagnóstico, entre 34 e 57 anos (Wolfe, 1990). Segundo o
estudo multicêntrico realizado pelo autor, a média de idade por ocasião do
diagnóstico foi de 49 anos, sendo 89% mulheres e 93% caucasianos.
As manifestações da fibromialgia tendem a ter início insidioso na vida adulta,
no entanto, 25% dos casos referem apresentar os sintomas dolorosos desde a
infância (Wolfe, 1986).
A origem da fibromialgia está relacionada à interação de fatores genéticos,
neuroendócrinos, psicológicos e distúrbios do sono (Moldofsky, 1989). As
alterações nos mecanismos de percepção de dor atuam como fator que predispõe
o indivíduo à fibromialgia, frente a processos dolorosos, a esforços repetitivos,
à artrite crônica, a situações estressantes como cirurgias ou traumas, processos
infecciosos, condições psicológicas e até retirada de medicações, como
corticosteróides (Yunus, 1994).
Tem-se observado que os indivíduos com fibromialgia, além de apresentarem
os característicos pontos dolorosos, apresentam também aumento da sensação
dolorosa em pontos ditos controle (Quimby, 1988).
A deficiência de serotonina, em particular, está implicada nas síndromes
dolorosas periféricas e centrais, levando a hiperalgesia. Além disto, a serotonina
e outras aminas biogênicas alteram a função dos macrófagos, ativam as células
citotóxicas e atuam em musculatura lisa, inclusive a dos vasos, mecanismo que
pode participar dos fenômenos vasoativos e da síndrome do cólon irritável
presentes na fibromialgia (Bennet, 1993). A liberação de substância P, por sua vez,
é influenciada pela serotonina e a sua deficiência, quer no sistema nervoso
periférico, quer no central, acarreta alterações na percepção de estímulos
sensitivos normais (Russel, 1989). Nas situações em que ocorre depleção de
serotonina, observa-se a diminuição do sono não
dolorosas, psicossomáticas e depressivas.
A principal queixa dos pacientes com fibromialgia é a dor difusa e crônica,
muitas vezes difícil de ser localizada ou caracterizada com precisão (Goldenberg,
1987). Os distúrbios do sono e a fadiga são relatados por 75% dos casos (Wolfe,
1990), fadiga esta que tem início logo ao despertar e duração maior do que uma
hora, reaparecendo no meio da tarde. Os pacientes referem, ainda, rigidez matinal
e sensação de sono não restaurador, apesar de terem dormido de 8 a 10 horas.
O sono é superficial, tendo os pacientes facilidade de acordar frente a qualquer
estímulo, além de apresentar um despertar precoce (Moldofsky, 1989).
Apesar de poder apresentar-se de forma extremamente dolorosa e
incapacitante, a fibromialgia não ocasiona comprometimento articular inflamatório
ou restritivo (Wolfe & Cathey, 1983). A presença dos pontos dolorosos é o achado
REM e o aumento das queixas
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primordial do exame físico, não se observando edema ou sinovite, a não ser na
concomitância de patologias como a osteoartrite ou artrite reumatóide.
A fraqueza muscular, o adormecimento e tremor em extremidades, embora
referidos por 75% dos pacientes, não são comprovados ao exame neurológico,
que é normal (Simms & Goldenberg, 1988).
Na fibromialgia o limiar doloroso médio dos pontos padronizados, assim
como dos pontos controle é mais baixo do que em outras doenças reumáticas
(Wolfe, 1990).
Outros achados do exame físico incluem o espasmo muscular localizado,
referidos como nódulos, a sensibilidade cutânea ao pregueamento (alodinia) ou
dermografismo, após compressão local. A sensibilidade ao frio também pode estar
presente e manifestar-se como “cutis marmorata” em especial nos membros
inferiores (ibid.).
Os exames laboratoriais e o estudo radiológico são normais e, mesmo
quando alterados, não excluem o diagnóstico de fibromialgia, uma vez que esta
pode ocorrer em associação a artropatias inflamatórias, a síndromes cervicais ou
lombares, as colagenoses sistêmicas, a síndrome de Lyme e a tireoidopatias
(ibid.).
De uma forma geral o tratamento da fibromialgia repousa sobre quatro
pilares: exercícios para alongamento e fortalecimento muscular, assim como para
condicionamento cardiorespiratório; técnicas de relaxamento para prevenir
espasmos musculares; hábitos saudáveis para melhorar a qualidade de vida e
reduzir o estresse. Os pacientes com fibromialgia devem ter conhecimento pleno
de sua condição clínica, uma vez que ela se caracteriza por recidivas intermitentes
dos sintomas de dor e fadiga; medicações para o controle da dor e dos distúrbios
do sono. O tratamento medicamentoso inclui a prescrição de antiinflamatórios e
aspirina, antidepressivos tricíclicos; inibidores da recaptação da serotonina;
benzodiazepínicos; medicações para o sono; medicações tópicas; analgésicos; e
derivados de anticonvulsivantes.
O quadro clínico “Histeria” segundo os estudos de Freud
O termo histeria tem origem nos primórdios da medicina e resultou do
preconceito, que vinculava as neuroses às doenças do aparelho sexual feminino
(
Segundo Freud (1888), a histeria é uma neurose no mais estrito sentido da
palavra – que dizer, não só não foram achadas nessa doença alterações
perceptíveis do sistema nervoso, como também não se espera que qualquer
υδτερα, útero).
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aperfeiçoamento das técnicas de anatomia venha revelar alguma dessas alterações.
(ibid.).
Freud percorreu um longo caminho até apresentar a teoria da etiologia das
neuroses tal qual a conhecemos, pois sua teoria foi sendo construída na medida
em que sua clínica avançava.
No início de seus estudos sob a orientação de Charcot, Freud baseava sua
clínica da histeria nos métodos comumente utilizados na época, o principal deles
sendo a hipnose.
Sob a influência de Charcot e Janet tomava a histeria como uma “doença por
representação”, e seria causada pela ação patogênica de uma representação
psíquica, de uma idéia inconsciente e intensamente carregada de afeto que estava
reprimida. Em “Comunicação preliminar” (1893), texto que antecede os “Estudos
sobre a histeria” é essa a principal posição teórica adotada por ele:
... no curso normal das coisas, se uma experiência for acompanhada de uma
grande dose de “afeto”, esse afeto é “descarregado” numa variedade de atos
reflexos conscientes, ou então vai se desgastando gradativamente pela
associação com outros materiais mentais conscientes. No caso dos pacientes
histéricos, por outro lado, nenhuma dessas coisas acontecem. O afeto permanece
num estado “estrangulado, e a lembrança da experiência a que está ligado é
isolada da consciência. A partir daí, a lembrança afetiva se manifesta em sintomas
histéricos, que podem ser considerados “símbolos mnêmicos” – vale dizer,
símbolos da lembrança suprimida. (p. 22)
No texto “A etiologia da histeria”, de 1896, Freud diz que “nenhum sintoma
pode emergir de uma única experiência real, mas que em todos os casos, a
lembrança de experiências mais antigas despertadas em associação com ela atua
na causação do sintoma” (p. 194).
Mais adiante, continua dizendo que: “... a descoberta mais importante a qual
chegamos quando uma análise é sistematicamente conduzida é que qualquer que
seja o caso, qualquer que seja o sintoma que tomemos como ponto de partida,
no fim chegamos infalivelmente ao campo da experiência sexual”
portanto, Freud trata pela primeira vez de uma precondição etiológica dos sintomas
histéricos – um trauma de origem sexual.
Porém, Freud não pôde encontrar nenhum indício de que esses traumas
pudessem ter sido causados pelas cenas da puberdade ou por cenas posteriores.
Procurou, então, determinantes destes sintomas em experiências que
retrocedessem ainda mais; ao fazer isso, chegou ao período da primeira infância.
E expõe a tese de que “na base de todos os casos de histeria, há
ocorrências de experiência sexual prematura
trabalho da psicanálise a despeito das décadas decorridas no intervalo” (Freud,
1896, p. 200).
(p. 196). Aqui,uma ou mais, ocorrência reproduzida através do
270
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Nessa época Freud estava convencido de que o doente histérico havia
sofrido, durante sua infância, uma experiência traumática. A criança fora vítima
impotente de uma sedução sexual efetuada por um adulto. Acreditava que a
etiologia da histeria devia-se a um trauma sexual sob a forma de sedução por parte
do pai. Como afirma em sua Carta 52 (1896): “... a histeria resulta em todos os
casos da perversão por parte do sedutor”. Acreditava, então, que o desejo do pai
era sempre o elemento patogênico.
Tal hipótese foi abandonada na medida em que se deu conta de que não
existe “índice de realidade” no inconsciente, de que não se pode distinguir entre
a verdade e a ficção investida de afeto. Foi com a famosa frase dita na carta 69
a Fliess “não acredito mais em minha neurótica” que Freud conta com
desapontamento os motivos pelos quais desacreditou na teoria de perversão por
parte do pai (Freud, Carta 69, 1897):
... veio a surpresa diante do fato de que, em todos os casos, o pai, não excluindo
o meu, tinha de ser apontado como pervertido – a constatação da inesperada
freqüência da histeria, na qual o mesmo fator determinante é invariavelmente
estabelecido, embora uma dimensão tão difundida da perversão em relação às
crianças não seja muito provável. (A perversão teria de ser mais
incomensuravelmente freqüente do que a histeria...). (p. 310)
Foi entre 1897 e 1905 que a teoria traumática da histeria – que Freud havia
desenvolvido com o auxílio de Breuer – deu lugar à teoria da fantasia, na qual o
atentado sexual sofrido foi tomado como uma elaboração fantasística que tinha
efeito traumático. E a premissa de que “o desejo
patogênico” deu lugar à hipótese de que: “o desejo
na origem da histeria” (Teoria do Édipo).
Assim como sua teoria, o tratamento da histeria também sofreu
modificações. A hipnose utilizada por Freud no início de sua clínica logo deu lugar
à técnica da “associação livre”, e a cura pela fala é utilizada no método
psicanalítico.
Os seguintes sintomas histéricos foram descritos por Freud em seus estudos:
abulia, afasia, alucinação, amaurose, ambliopia, amnésia, analgesia, anestesia,
angústia, anorexia, artralgia, asma, astasia, atetose,
no pescoço,
dos pés, contraturas, convulsões epileptóides,
depressão, desmaios, diplopia, dispnéia, distúrbio do andar, distúrbios auditivos,
distúrbio da fala, distúrbio do olfato, distúrbio da visão, dor de cabeça, dores
gástricas, ecmnésia, enxaqueca, eritema, espasmos, espasmos clônicos, espasmos
histéricos, estrabismo, estupor, euforia, fadiga, sensação de frio, gagueira,
constricção da garganta, hemianestesia, hiperalgesia, hiperestesia,
do pai é sempre o elementopelo pai, recalcado que estariaattitudes passionelles; cãibrasCephalagia adolescentium, choro, contração de dedos das mãos eDélire ecmnésique, delírios,idées fixes;
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insônia, macropsia, mutismo, nevralgia, nevralgia ovariana, palpitações, parafasia,
paralisia, paramnésia, paresia, parestesia,
pseudoperitonite, surdez, tiques, tontura, tremores,
zoopsia (1895, p. 341).
Pode-se destacar, portanto, os sintomas comuns apresentados no quadro
clínico “Fibromialgia” e no quadro clínico “Histeria”: angústia, choro, depressão,
distúrbio do andar, dor de cabeça, espasmos, fadiga, insônia, nevralgia, parestesia
e tremores.
petit-mal; pseudo-encefalite,Tussis nervosa, vômito,
Os casos clínicos de histeria descritos por Freud
Em “Estudos sobre a histeria”, Freud apresenta cinco casos clínicos e faz
uma descrição bastante minuciosa e rica em detalhes tanto dos inúmeros sintomas
que acometiam suas pacientes, como de fatos e detalhes de suas vidas. É nesse
texto que se encontra a constatação principal, para sua teoria, de que o histérico
sofre de reminiscências inconscientes, ligadas a um afeto insuportável que lhe
serve de base mais tarde para o entendimento da sexualidade humana como infantil
e ancorada nas fantasias edipianas.
No
contratura e anestesia das extremidades; sentimento de angústia, sendo marcantes
o seguintes fatos de sua história: dedicou toda sua energia para cuidar do pai que
veio a falecer; ajudava pobres e doentes; era conhecida pela bondade e
consideração para com os outros; um dos seus traços de caráter era a
generosidade e solidariedade.
No
insônia; dores por todo corpo; sensação de frio e dor na perna. De sua história,
diz ter sido perseguida pelos parentes do marido; e as expectativas de infortúnios
que não paravam de atormentá-la.
No
analgesia geral.
No
falta de ar; crises de angústia – acha que vai morrer; zumbido na cabeça.
Finalmente, no
caráter indefinido; fadiga dolorosa; dores irradiantes; músculos sensíveis à dor;
hiperalgia muscular; fibras endurecidas. De sua história, destaca-se que sentiase
responsável pela felicidade da mãe; e que cuidou do pai enfermo até a sua morte.
Em todos esses casos, Freud apresenta como, a partir da associação livre,
com a rememoração dos fatos traumáticos que remetem à experiências sexuais
Caso I, de Anna O., 21 anos, os sintomas descritos são: dores de cabeça;Caso II, de Emmy von N., 40 anos, os sintomas descritos são: depressão;Caso III, da srta. Lucy R., 30 anos, os sintomas são: depressão; fadiga;Caso IV, da srta. Katharina, 18 anos, os sintomas são: “nervos ruins”;Caso V, da srta. Elizabeth Von R., os sintomas são: dores de
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infantis recalcadas, os sintomas que se manifestam no corpo, ao se transcreverem
em palavras para o psicanalista, têm uma outra resolução, desta vez simbólica.
Casos clínicos de Fibromialgia
Os pacientes fibromiálgicos foram ouvidos em entrevistas abertas, com
duração de 50 minutos, realizadas no Ambulatório de Fibromialgia do Hospital de
Clínicas da Universidade Federal do Paraná, entre dezembro de 2003 e março de
2004. Os pacientes ouvidos eram indicados pelos médicos do serviço, após terem
passado pela consulta diagnóstica ou pela consulta de retorno.
Durante a entrevista os pacientes foram ouvidos sobre sua dor ou apenas
convidados a falar sobre si. A entrevista tinha o intuito de redirecionar a queixa
do paciente, que é estritamente física, fazendo com que eles dessem um novo
sentido à sua dor. Assim como Freud (1896) descreve seu método de investigação
anamnésica: “a que influências danosas os próprios pacientes atribuem seu
adoecimento e o desenvolvimento desses sintomas” (p. 189).
Os sintomas físicos descritos por esses pacientes eram geralmente os
mesmos, diferenciando-se apenas de membro ou intensidade; cada paciente,
porém, tinha sua história, sua dor particular. A partir daí, dando lugar às queixas
físicas, surgiram muitas histórias de vidas sofridas, e a dor do corpo se
transformava em palavras, enfim, histórias que pareciam se repetir uma atrás da
outra...
Traços recorrentes: pessoas que cuidam de tudo e todos; que se sentem
responsáveis pela felicidade do outro; que sofreram perdas financeiras ou de
saúde; situações de pai, marido violento; gravidez precoce; alcoolismo; abusos
físicos, verbais, como pode-se perceber nos seguintes recortes da fala de alguns
dos pacientes ouvidos no Ambulatório de Fibromialgia.
L.R.
a fibromialgia, diz: “agora que estou cada vez pior ele está cada vez melhor”.
48 anos, que sempre cuidou do marido doente e que agora sofre com
E.K.
verbais por 13 anos, além de cuidar dos filhos, da lavoura. Hoje diz sofrer por
não poder mais dar conta de tudo, a dor física a impede.
45 anos, cuidou da sogra esclerosada de quem sofreu abusos físicos e
A.M.
sofria com o pai alcoólatra, depois com o marido violento, agora é do chefe que
reclama. Diz sempre ter conseguido dar conta de tudo, criou seus filhos sozinha,
no momento as dores da fibromialgia a tem impedido.
52 anos, descreve ter pertencido a uma cadeia de abusos, primeiro
C.S.
como se tivessem ocorrido há poucos dias, sofre com suas reminiscências da
falência no corpo com a fibromialgia.
43 anos, descreve perdas financeiras sofridas há mais de vinte anos
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O.A.
por um médico sem experiência, “açougueiro”, que agora seus intestinos estão
colados e que lhe doem muito, tudo dói.
48 anos, conta seus partos difíceis, no último deles diz ter sido atendida
T.M.
primeiro deles tinha apenas poucos dias de nascida. No mais grave, onde foi
atropelado “pelas costas” por um amigo, ficou de cama por meses. Conta que
sofre perseguições políticas e que isso destruiu a sua vida. Tem depressão e
trabalha “drogado” para agüentar seu corpo doído.
35 anos, conta ter sofrido cinco acidentes de carro durante a vida; no
M.L.
ninguém sofrendo e diz: “eu sinto na carne pelo outro”. Descreve o sofrimento
do outro colado em seu próprio corpo.
53 anos, quer sempre dar conta de tudo e de todos, não pode ver
Conclusão
Durante o desenvolvimento deste trabalho pôde-se destacar várias
semelhanças entre as duas patologias estudadas.
Segundo Moldofsky (1991), a origem da fibromialgia está relacionada à
interação de fatores genéticos, neuroendócrinos, psicológicos e distúrbios do
sono. Cita que diferentes fatores isolados ou combinados podem favorecer a
manifestação do quadro, dentre eles doenças graves, traumas emocionais ou
físicos. Freud (1895), antes de ligar a causa da histeria à pulsão sexual, também
relacionava o aparecimento da histeria a traumas psíquicos.
Outro ponto em comum das duas patologias é o descrédito que ambas
inicialmente provocaram e ainda provocam frente aos médicos. Afinal, o
diagnóstico das duas doenças se dá exclusivamente pelas sensações relatadas pelos
pacientes, não existindo nenhum exame que possa comprovar a veracidade do que
é descrito.
Freud (1909), descreve:
... com o rótulo de histeria pouco se altera, portanto, a situação do doente,
enquanto para o médico tudo se modifica. Pode-se observar que este se comporta
para com o histérico de modo completamente diverso que para com o que sofre
de uma doença orgânica. Nega-se conceder ao primeiro o mesmo interesse que
dá ao segundo, pois não obstante as aparências, o mal daquele é muito menos
grave. Os histéricos ficam privados da simpatia dos médicos, pois esses os
consideram transgressores das leis de sua ciência. (p. 29)
Essa citação de Freud nunca foi tão atual, os sintomas histéricos continuam
sendo tratados com a mesma falta de simpatia por alguns médicos como eram no
final do século
XIX. Esse mesmo preconceito encontra-se descrito na literatura
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sobre fibromialgia. Hudson (1989) relata que pessoas que apresentavam dor
generalizada e uma série de queixas mal-definidas não eram levadas a sério e que
seus sintomas eram tomados por alguns como imaginários ou desprezíveis, e cita
que ainda hoje tais sintomas dividem opiniões.
Como afirma Melman (2003), “... sempre foi uma particularidade histérica
colocar dores na cena clínica, que não têm fundamento orgânico. É uma tradição
absolutamente milenar” (p. 115).
Retomemos os sintomas da fibromialgia: dores difusas pelo corpo, fadiga
crônica, distúrbio do sono, rigidez muscular, parestesias, cefaléias, síndrome do
cólon irritável, fenômeno de Raynaud e distúrbios psicológicos, especialmente a
ansiedade e a depressão. Agora voltemos a Freud (1895), em seus “Estudos sobre
a histeria”: todos esses sintomas aparecem lá, assim descritos um a um.
E as histórias de vida das pacientes ouvidas por Freud no final do século
XIX
e as das pacientes ouvidas no ambulatório, será que diferem tanto assim?
Tratam-se de histórias de vidas sofridas, perdas, prazeres abdicados...
pessoas que parecem querer dar conta do sofrimento do outro e do seu. Como
se “seu corpo doído fosse o resultado metafórico da surra que levaram da vida”
(Calligaris, 2001).
Freud (1895) pressupunha que os pacientes histéricos possuíam uma
excitabilidade anormal do aparelho relacionado com as sensações de dor. Quimby
(1988), também descreve a maior sensibilidade dos pacientes fibromiálgicos frente
a um estímulo doloroso.
Freud descobriu o papel fundamental que a sexualidade apresenta na etiologia
da histeria, bem como as questões relacionadas à feminilidade. Tal fato parece ter
relevância na fibromialgia, uma vez que por volta de 90% dos seus casos
diagnosticados são de pacientes do sexo feminino.
Os distúrbios do sono relatados em 75% dos casos de fibromialgia (Wolfe,
1990), já eram sintomas abordados por Freud em seu texto “Sobre o mecanismo
psíquico dos fenômenos histéricos” (1893).
Um movimento curioso constatado no transcorrer deste estudo relaciona-se
aos tratamentos sugeridos às duas patologias e à transformação que eles sofreram
no decorrer dos anos.
Em 1896, quando Freud se fixou em Viena para estabelecer sua clínica de
doenças nervosas, iniciou o tratamento das histerias com os métodos comumente
recomendados, como a hidroterapia, massagens e cura pelo repouso. Quando
esses métodos se revelaram insatisfatórios ele voltou à hipnose. Porém pouco a
pouco foi abandonando o hipnotismo, o que o fez ampliar ainda mais sua
compreensão dos processos mentais, utilizando-se do método da associação livre.
Segundo Bennett (1993), além do tratamento medicamentoso sugerido para
a fibromialgia, sugere-se que o paciente faça exercícios físicos, como
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hidroginástica e caminhadas, sendo indicadas também sessões de relaxamento. Um
dos “novos” tratamentos sugeridos pelos médicos para fibromialgia é a hipnose!
Torna-se impossível não remeter às sessões de hidroterapia e à cura pelo
repouso, indicadas pelos médicos em 1896. Resta uma interrogação: será que a
hipnose também será abandonada, como Freud a abandonou dando lugar à cura
pela palavra? Assim como a histeria se tornou uma entidade da psicanálise, tomará
a fibromialgia o mesmo caminho? No ambulatório em que se realizou a pesquisa,
mesmo partindo do pressuposto organicista e do tratamento medicamentoso, os
médicos pareciam bastante aliviados em poder contar com uma profissional “psi”
para direcionar os pacientes que, mesmo com a receita nas mãos, ainda insistiam
em querer falar! Ou quando as histórias contadas eram por demais chocantes, tristes...
Por fim, após abordar as duas patologias, comparando seus sintomas, fatos,
assim como semelhanças entre os casos clínicos descritos por Freud e os
escutados no ambulatório de fibromialgia do Hospital de Clínicas, pode-se lançar
a hipótese de que a fibromialgia não é uma doença contemporânea, mas sim um
sintoma histérico contemporâneo.
No que diferem as pacientes de hoje e as histéricas de Freud? A serviço do
que essa “nova” patologia aparece e ganha cada vez mais adeptos? Assim como
a histeria, no século
colocado em palavras. Afinal é um corpo que fala, que dói.
O que faz a medicina hoje? Nomeia, descreve todo e qualquer sintoma que
o ser humano possa sentir, ou pensar em sentir e então prescreve medicamentos.
Como se a dor de viver aparecesse como dor física e pudesse ser medicada,
curada com um analgésico.
Curiosamente na fibromialgia os medicamentos prescritos são antidepressivos,
analgésicos, medicação para sono – tratamentos para dopar o corpo, calá-lo.
Quer-se calar o corpo para calarem-se as questões. Questões que devem ser
trabalhadas, analisadas. A psicanálise surgiu, no século
respostas ao enigma da histeria: descobriu um sujeito, desejante, que queria se
fazer reconhecer. Sujeito esse que parece ter sido esquecido na contemporaneidade.
Com a correria dos tempos modernos, em que a ciência e a tecnologia tentam
dar conta de tudo, oferecendo objetos de gozo para qualquer falta, em que
“tempo é dinheiro”, as questões do viver ficam esquecidas ou prorrogadas. Mais
uma vez, o corpo vem denunciar que não é assim que as coisas funcionam com
o psíquico: sem a falta estruturante, não há surgimento do desejo, conseqüentemente,
onde está o sujeito (
em pauta? Se essa dor pode ser medicada, se esse corpo pode ser esquecido, se
qualquer gozo é permitido, ainda assim podemos afirmar, a partir do discurso
psicanalítico: é somente no campo simbólico, das palavras, que um sujeito pode
tentar entender o que é ter um corpo, para exercer sua sexualidade e situar-se em
um determinado lugar no mundo.
XIX, ela vem denunciar que algo precisa ser dito, revelado,XIX, partir da busca de)? Aquele que se implica, se questiona, põe suas dores
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Resumos
Este trabajo tiene el objetivo de comparar el cuadro clínico contemporáneo
Fibromialgía, con el cuadro clínico Histeria, tal cual fue descrito por Sigmund Freud
en el siglo XIX. Pretende explorar las dos patologías en lo que se refiere a la
descripción, síntomas, hechos y tratamiento. Serán también presentados casos clínicos
para ilustrar los dos cuadros y identificar posibles semejanzas. La fibromialgía será
descrita por medio del discurso médico contemporáneo, ya la histeria será abordada
utilizando los escritos de Freud. Por fin, se defiende la hipótesis de que la fibromialgía
hace parte del cuadro clínico de la histeria, o sea, que los sujetos diagnosticados con
fibromialgia son en realidad pacientes que presentan síntomas histéricos.
Palabras claves
: Fibromialgía, histeria, psicoanálisis
Le but de ce travail est comparer le tableau clinic contemporain de la fibromyalgie
et le tableau clinic de l’hysterie décrit par Sigmund Freud dans le
à étudier les deux pathologies en ce qui concerne leurs descriptions, leurs symptômes,
les histoires de vie des patients et leurs treatments. On présente des observations
cliniques pour illustrer les deux tablexu clinics et répérer leurs ressemblances. La
fiblomyalgie sera décrite à travers le dircours médical contemporain; l’hystérie, elle,
sera traité à travers les écrits de Freud. Bref, on soutien l’hypothèse que la fiblomyalgie
fait partie du tableau clinic de l’hysterie, c’est-à-dire, les sujets répérés comme ayant
le diagnostic de fibromyalgie sont en fait des patients hysteriques.
XIXe siècle. On vise
Mots clés
: Fibromyalgie, hysterie, psychanalyse
This article compares the contemporary pathology known as fibromyalgia with
the disorder of hysteria as it was described by Sigmund Freud in the 19th century. It
explores these two pathologies in their descriptions, symptoms, facts and treatment.
Clinical cases are also presented in order to identify possible similarities. Fibromyalgia
is described here in terms of contemporary medical discourse, whereas hysteria is
viewed from Freud’s work. Finally, the hypothesis is defended to the effect that persons
with diagnosis of fibromyalgia in fact show symptoms of hysteria.
Key words
: Fibromyalgia, hysteria, psychoanalysis
Versão inicial recebida em janeiro de 2006
Aprovado para publicação em março de 2006