Sigmund Freud

terça-feira, 17 de maio de 2011

Artigo sobre Narcisismo, aprecie.

“A QUANTOS PASSOS DA LUA”.
           
            Há exatos 40 anos, em 20 de julho de 1969 o homem pisava na Lua. Arminstrong era o centro das atenções, noticiário nas televisões preto e branco e em todos os jornais do mundo.
            Enquanto isso aqui na Terra, no mesmo instante em Gary, Indiana nos Estados Unidos da América estava uma criancinha de 11 anos, de pele escura, evidenciando uma afrodescendencia; seriam acontecimentos semelhantes?
            ABC, 123 (...) cantava ele junto a mais quatro irmãos, era o então conhecido na época grupo The Jackson‘s Five. E o que era aquele “pequenino menino”? Dançava, representava, cantava e encantava, tinha estilo próprio; seria isso uma espécie de perfeição? E os pais desta criança? O que pensavam, o que viviam, o que esperavam? Esperavam por uma perfeição?
            Diz o anedotário popular que (...) “O Homem ideal deveria ser tão bonito quanto sua mãe pensa que ele é, tão rico quanto seu filho pensa que ele é, ter tantas amantes quanto sua mulher pensa que ele tem e ser tão bom de cama quanto ele mesmo pensa que é”.
            Penso que os pais dos Jackson idealizavam a si próprios nos filhos, projetavam desejos, sonhos, fantasias nos meninos, mas essa seria ainda a melhor versão, seria a verdade?
            Detenho-me agora ao Jackson Michael. De que sonhos, desejos e fantasias teria vivido este “sujeito”; digo “sujeito” pois aos 50 anos de idade não conseguia defini-lo como um adulto ou uma criança, branco ou negro, homem ou mulher! Este pequenino me pareceu um adulto enquanto era criança e uma criança enquanto era um adulto; um ser assexuado que tudo podia, tinha exclusividades e excentricidades, um parque de diversões para seu bel prazer! Suas excentricidades não tinham limites, escolheu como seriam seus próprios filhos; cor dos olhos, cabelo, pele...
            Parece brincadeira escrever assim, mas uma característica marcante deste artista era a vida que levava em meio a idealizações e expectativas mágicas, uma mescla de decepções, sentimentos persecutórios e exibicionistas. Parecia uma pessoa que vivia entre um “eu” e o “não eu”, entre si e os outros, onipotente e ao mesmo tempo dependente, frágil!
            Michael vivia afrontando sua “imaginária completude” negava a todo tempo seu verdadeiro “self”, negava sentimentos e as verdades mais penosas e primitivas, buscando sempre a imensa necessidade de reconhecimento, buscava fetiches, como o de brincar com crianças em Neverland, sua Terra do nunca!
            A onipotência dele o levou a morte assim como a de Narciso na Mitologia Grega, que se afogou ao ver seu próprio reflexo na água. No palco da vida interpretava como ninguém, seu show era perfeito e talvez essa forma sublimada o fizesse sentir algum prazer genuíno. Michael não conhecia a realidade, criou seu próprio mundo de falsos prazeres, cheio de feridas e dores, se afogou sem saber ao menos quem era, se anestesiava da verdadeira realidade!
            Monmwalk era sua marca registrada, fazia aquele passo como ninguém, talvez o palco fosse a verdadeira vida dele, só atuando, atuando... Mas a quantos passos estaria ele da Lua? Penso que nosso satélite natural seria a única morada “concreta” para esta pequena, indefesa e polimorfa criança! Talvez ele e a Lua tivessem algo em comum; inabitável, só e cheia de fases; mas quando se encontra com o sol proporciona um espetáculo incrível! O Eclipse poderia dizer um pouco sobre a ambivalência deste “astro pop”: sentimentos que queimavam como o calor do sol, uma luz que encantava e iluminava como a lua, o adulto e a criança que nunca conseguiram se encontrar, o menino e a menina que não conseguiram definir-se, o claro e o escuro; a procura da perfeição que o levou a uma grande exaustão!

Artigo publicado no Jornal O Liberal em 25 de Julho de 2009 no Caderno Opinião do Leitor.
Autoria: Miriela De Nadai


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