Sigmund Freud

terça-feira, 17 de maio de 2011

Relembre os Atos Secretos no Planalto Central... Compulsão a Repetição?

Para pensar e refletir sobre nossa condição humana, cidadania e os atos secretos!

Trago a luz os últimos acontecimentos em nosso “Planalto Central”. Atos secretos! Que na verdade hoje já não mais tão secretos assim! Nem para mim, para você, para ninguém! Ninguém é cego, não é? Ou será que José Saramago previa estes atos ao escrever o livro “Ensaio sobre a cegueira”, e acrescenta (..) “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
Acredito que citar nossa grande interprete Ellis Regina seria mais que pertinente para ilustrar este momento de desconforto e indignação diante daqueles que representam nossa nação. Num trecho da musica “Como nossos pais”, escrita por Belchior, podemos observar a confirmação de conflitos que passam de pais para filhos, passam de geração a geração, a dor de nada poder fazer para mudar uma situação, uma alienação.. Segue:

“Você pode até dizer que eu tô por fora, ou então que eu tô inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Tá em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”!

No caso destes atos secretos, além de conflitos transgeracionais, existe a onipotência de um Coronel que se livra de punições legais de um lado mas alimenta um ego inflamado de poder e liberdade de outro, se dizendo perseguido, alvejado sem razões concretas!
Convido a todos a lerem ou assistirem “Ensaio sobre a cegueira”, para que possamos pensar sobre a essência humana e até que ponto vale a pena “enxergar atos secretos”. É assim que os homens verdadeiramente são? É preciso cegar-se todos para que enxerguemos a essência de cada um?
Onde está o movimento social “Caras Pintadas”, será que eles sabiam o que estavam fazendo na época? Aquele que na época dizia ter como meta acabar com os marajás está às voltas novamente no Planalto, e aí? Alguém lembra quem é? Esse já não é um amigo secreto, ou inimigo.... Basta refletir e exercer a cidadania com responsabilidade e informação!

Miriela De Nadai




Artigo sobre Narcisismo, aprecie.

“A QUANTOS PASSOS DA LUA”.
           
            Há exatos 40 anos, em 20 de julho de 1969 o homem pisava na Lua. Arminstrong era o centro das atenções, noticiário nas televisões preto e branco e em todos os jornais do mundo.
            Enquanto isso aqui na Terra, no mesmo instante em Gary, Indiana nos Estados Unidos da América estava uma criancinha de 11 anos, de pele escura, evidenciando uma afrodescendencia; seriam acontecimentos semelhantes?
            ABC, 123 (...) cantava ele junto a mais quatro irmãos, era o então conhecido na época grupo The Jackson‘s Five. E o que era aquele “pequenino menino”? Dançava, representava, cantava e encantava, tinha estilo próprio; seria isso uma espécie de perfeição? E os pais desta criança? O que pensavam, o que viviam, o que esperavam? Esperavam por uma perfeição?
            Diz o anedotário popular que (...) “O Homem ideal deveria ser tão bonito quanto sua mãe pensa que ele é, tão rico quanto seu filho pensa que ele é, ter tantas amantes quanto sua mulher pensa que ele tem e ser tão bom de cama quanto ele mesmo pensa que é”.
            Penso que os pais dos Jackson idealizavam a si próprios nos filhos, projetavam desejos, sonhos, fantasias nos meninos, mas essa seria ainda a melhor versão, seria a verdade?
            Detenho-me agora ao Jackson Michael. De que sonhos, desejos e fantasias teria vivido este “sujeito”; digo “sujeito” pois aos 50 anos de idade não conseguia defini-lo como um adulto ou uma criança, branco ou negro, homem ou mulher! Este pequenino me pareceu um adulto enquanto era criança e uma criança enquanto era um adulto; um ser assexuado que tudo podia, tinha exclusividades e excentricidades, um parque de diversões para seu bel prazer! Suas excentricidades não tinham limites, escolheu como seriam seus próprios filhos; cor dos olhos, cabelo, pele...
            Parece brincadeira escrever assim, mas uma característica marcante deste artista era a vida que levava em meio a idealizações e expectativas mágicas, uma mescla de decepções, sentimentos persecutórios e exibicionistas. Parecia uma pessoa que vivia entre um “eu” e o “não eu”, entre si e os outros, onipotente e ao mesmo tempo dependente, frágil!
            Michael vivia afrontando sua “imaginária completude” negava a todo tempo seu verdadeiro “self”, negava sentimentos e as verdades mais penosas e primitivas, buscando sempre a imensa necessidade de reconhecimento, buscava fetiches, como o de brincar com crianças em Neverland, sua Terra do nunca!
            A onipotência dele o levou a morte assim como a de Narciso na Mitologia Grega, que se afogou ao ver seu próprio reflexo na água. No palco da vida interpretava como ninguém, seu show era perfeito e talvez essa forma sublimada o fizesse sentir algum prazer genuíno. Michael não conhecia a realidade, criou seu próprio mundo de falsos prazeres, cheio de feridas e dores, se afogou sem saber ao menos quem era, se anestesiava da verdadeira realidade!
            Monmwalk era sua marca registrada, fazia aquele passo como ninguém, talvez o palco fosse a verdadeira vida dele, só atuando, atuando... Mas a quantos passos estaria ele da Lua? Penso que nosso satélite natural seria a única morada “concreta” para esta pequena, indefesa e polimorfa criança! Talvez ele e a Lua tivessem algo em comum; inabitável, só e cheia de fases; mas quando se encontra com o sol proporciona um espetáculo incrível! O Eclipse poderia dizer um pouco sobre a ambivalência deste “astro pop”: sentimentos que queimavam como o calor do sol, uma luz que encantava e iluminava como a lua, o adulto e a criança que nunca conseguiram se encontrar, o menino e a menina que não conseguiram definir-se, o claro e o escuro; a procura da perfeição que o levou a uma grande exaustão!

Artigo publicado no Jornal O Liberal em 25 de Julho de 2009 no Caderno Opinião do Leitor.
Autoria: Miriela De Nadai


sábado, 14 de maio de 2011

Filme e Psicanalise...

O Resgate do verbo.

Assista ao filme "O discurso do Rei", com Colin Firth, direçao de Tom Hooper.
O filme trata do encontro do futuro rei da Inglaterra com seu terapeuta, aborda a relaçao transferencial, fundamental para mover o paciente de sua paralisia sintomatica.
O futuro Rei sofre de gagueira, e protegido pela tecnica psicanalitica, durante as sessoes, o nobre ingles relaxa o corpo e solta a voz, grita seu odio, localiza seus medos e deixa aparecer um menino por vezes humilhado na infancia.
Bom filme!
Miriela De Nadai

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Filme do piloto de Formula 1 - Senna.

Bem, assisti ao filme Senna, na verdade um documentario.
Pensei, repensei; minha fantasia ao articular psicanaliticamente o documentario, percebi um comportamento altamente destrutivo no piloto. Senna deixava nitido que nao aceitava perder nenhuma corrida, era competitivo demais, perfeccionista.
Suas manobras eram arriscadas e sempre perigosissimas, mas ele tinha o dom de encantar os brasileiros e se orgulhava em levantar a bandeira! O povo precisava de um idolo para suportar as dificuldades que o Brasil enfrentava economicamente na epoca, e Senna encantava e encanta.
Destarte, anciava perfeicao, o perigo, e penso que passou a vida toda com sede de morte, querendo conhecer aquela que sempre o acompanhava nas periculosidades de sua profissao. A pulsao de morte se fazia perceber quando em todo acidente com outros pilotos, ver, observar, colocando sempre as duas maos na cabeça e no pescoço, andando de um lado para outro, parecendo impaciente e pensativo. Talvez um olhar curioso frente a um possivel desejo.
Na realidade, o que Freud procura explicitamente destacar pela "Pulsao de Morte" é o que ha de mais fundamental na noçao de pulsao, o retorno a um estado anterior e, em ultima analise, o retorno ao repouso absoluto do anorganico, Freud destaca que o principio do prazer parece estar de fato a serviço das pulsoes de morte, como principio economico da reduçao das tensoes a zero...
Sua rivalidade com Prost era interessante, membros da mesma equipe e nao se falavam, Senna nao aceitava estar fora do favoritismo, de ser o numero um, algo semelhante a "sua magestade o bebe"!
Convido a todos para assistir este filme, penso que Senna tinha um lado destrutivo e agressivo, talvez este esporte teria sido uma forma de sublimacao, e podemos encontrar a ideia de que a sublimaçao esta em estreita dependencia da dimensao narcisica do ego, de forma que encontrariamos, ao nivel do objeto visado pelas atividades sublimadas, o mesmo carater de totalidade que Freud atribui ao ego. Senna sabia de seu favoritismo, sua imagem era inabalavel, falava muito em Deus e do seu possivel encontro com ele, mas que sentido poderiamos dar a isso?
Ele morre justamente quando estava competindo com a melhor equipe, no auge de sua carreira, mas com uma temporada dificil e sem muitas vitorias. Senna bateu na curva Tamborello e ali talvez tenha encontrado o seu desejo. Seu corpo nao tinha um arranhao, a pancada teria abalado diretamente sua cabeça e pescoço, onde ele sempre colocava suas maos em momentos de tensao, acidentes da F1, medo e quiça voliçao.
Miriela De Nadai

quarta-feira, 4 de maio de 2011

"En" fezado?! Como assim?!

VOCE JA SE SENTIU ENFEZADO?

Como é sobejamente conhecido, o sistema gastrointestinal é muito sensível as emoções. Agora vamos esmiuçar a palavra "Enfezado".__ : En: Junto de, com; já o "Fezado".__: podemos pensar que carrega a fé e aprendizado. Para completar o sentido da palavra falta: fezes:- que são dejetos, detritos do nosso corpo, aquilo que ingerimos, tanto na questão alimentar, como o que temos que digerir em forma de cobranças, pressão e emoções. Portanto, "enfezado" é cheio de fezes, angustiado, torturado, aniquilado por algo que vem de fora, ansiedades ligadas a desejos e afetos.
Certamente você já ouviu alguém a sua volta dizer sem pensar: __ “Estou com o intestino preso", ou então, "isso é uma cagada", "não consigo engolir este fato" {...}
Parece estranho, mas para quem tem ou já teve problemas intestinais, como por exemplo, síndrome de Crown, retocolite ulcerativa {doença inflamatória crônica intestinal}, ulcera duodenal, fissuras retais, fistula, abscessos anais, diverticulite, etc.: de certa forma tem que aprender a lidar com a aceitação de ter a patologia, e não e nada fácil lidar com algo que machuca tanto fisicamente como psiquicamente!
Acredito que o intestino tem ligação direta as nossas agressividades contidas, intimidades, com todas as relações que despertam emoções. Seguindo esta linha de pensamento, a raiva, por exemplo, ao invés de ser projetada em outra pessoa é projetada em si mesmo de forma inconsciente e primitiva. A destrutividade fica toda no intestino, nas fezes, que Freud postulava ser o primeiro presente da criança para seus pais, usando a mesma como forma de controle. Esta foi chamada de fase anal do desenvolvimento libidinal.
Trancado no banheiro, evacuando o fétido, suando sob o que é dolorido, muitas vezes sangrando, a pessoa consegue colocar para fora seu ódio , raiva, competições e ao mesmo tempo o alivio de não ter agredido ou machucado alguém, fantasiando ter poupado todos ao seu redor de sua destrutividade. A agressividade se manifesta de forma inconsciente, a relação entre a mesma, intimidade e psicossomatica têm que ser levada em consideração. Não é fácil estar "enfezado". Difícil é a maldade que muitos defecam em cima dos outros por prazer, a verborragia em meio a tantos fracassos e fracassados. Relações familiares englobam afetos; a inveja e o ciúme estão extremamente vinculados as pessoas que adoecem enfezadas. Agora questiono:__ "Você já deixou alguém enfezado"?
Relações no trabalho, família, descontentamentos diversos, hereditariedade, luto, depressão, estão presente em nossa vida cotidiana, mas a partir do momento que se tornam dejetos e fezes reprimidas é o momento de refletir, dar descarga nas emoções e deixar a dor psíquica ir! É possível conciliar a dor física e psíquica, basta aceitar ajuda de profissionais e principalmente não ter receio, vergonha, constrangimento para entregar-se a uma probabilidade de cura.
"Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é" (Dom de Iludir - Caetano Veloso).

Miriela De Nadai


Pulsão de Vida e Pulsão de Morte.

A vida e a morte.
 (Rubem Alves)


Era no tempo de toca-discos. Eu estava ouvindo um long-play com poemas de Drummond e Vinícius. Os perigos eram os riscos que fazem a agulha saltar. Felizmente até ali tudo estava liso sem pulos ou chiados. Era a voz do Vinícius, voz rouca de uísque e fumo. Chegou o poema “O Haver”, meu favorito, em que o poeta fazia um balanço da sua vida. O que restara.
“Resta essa capacidade de ternura, essa intimidade perfeita com o silêncio...”. “Resta essa vontade de chorar diante da beleza, essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido...”. “Resta essa faculdade incoercível de sonhar e essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas tomam por esperança...”
Começava, naquele momento. A última quadra, e de tantas vezes lê-la eu já sabia de cor as suas palavras, e as ia repetindo dentro de mim, antecipando o último verso que seria o fim, sabendo que tudo o que é belo precisa terminar.
O pôr-do-sol é belo porque suas cores são efêmeras, em poucos minutos não mais existirão. A sonata é bela porque sua vida é curta, não dura mais que vinte minutos. Se a sonata não tivesse fim ela seria um instrumento de tortura. Até o beijo... Que amante suportaria um beijo que não terminasse nunca?
O poema também tinha de morrer para que fosse perfeito. Tudo que fica perfeito pede para morrer. Depois da morte do poema é o silêncio. Nasceria então outra coisa em seu lugar: a saudade. A saudade só floresce na ausência.
A voz do Vinícius já anunciava o fim. Ele passou a falar mais baixo. “Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada, ela virá me abrir à porta como uma velha amante...”
Eu, na minha cabeça, automaticamente me adiantei, recitando em silêncio o último verso: “sem saber que é a minha mais nova namorada”.
Foi então, que no último momento, o imprevisto aconteceu: a agulha pulou para trás, talvez tivesse achado o poema tão bonito que se recusava a ser cúmplice de seu fim, não aceitava a sua morte, e ali ficou a voz morta do Vinícius repetindo palavras sem sentido: “sem saber que é a minha mais nova, sem saber que é a minha mais nova, sem saber que é a minha mais nova...”
Levantei-me do meu lugar, fui até o toca-discos e consumei o assassinato: empurrei suavemente o braço com o meu dedo, e ajudei a beleza morrer, ajudei-a a ficar perfeita. Ela me agradeceu, disse o que precisava dizer, “sem saber que é a minha mais nova namorada”. Depois disso foi o silêncio.
Fiquei pensando se aquilo não era uma parábola para a vida, a vida como uma obra de arte, sonata, poema, dança. Já no primeiro momento quando o compositor ou o poeta ou o dançarino preparam a sua obra, o último momento já está em gestação. É possível que a última quadra do poema tenha sido a primeira a ser escrita pelo Vinícius. A vida é tecida como as teias de aranha: começam sempre do fim. Quando a vida começa do fim ela é sempre bela por ser colorida com as cores do crepúsculo.
Não, eu não acredito que a vida biológica deva ser preservada a qualquer preço. “Para todas as coisas, há o momento certo. Existe tempo de nascer e o tempo de morrer”. (Eclesiastes 3.1-2)
A vida não é uma coisa biológica. A vida é uma entidade estética. Morta a possibilidade de sentir alegria diante do belo, morreu também a vida, tal como Deus no-la deu ainda que a parafernália dos médicos continue a emitir seus bips e a produzir zigzags no vídeo.
A vida é como aquela peça. É preciso terminar.
A morte é o último acorde que diz: está completo. Tudo o que se completa deseja morrer.

domingo, 1 de maio de 2011

Ambivalencia, verdade e escolha, psicanalisando....

A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta.

Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.

Cada um optou conformeseu capricho, sua ilusão, sua  miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)


"A ambivalencia é a presença simultanea, na relaçao com um mesmo objeto, de tendencias, de atitude e de sentimentos opostos, fundamentalmente o amor e o odio". (Laplanche e Pontalis - Vocabulario de Psicanalise).

O texto de Drumond nos mostra que escolher é algo ligado a abrir mao de alguma coisa, perder o que nao foi o escolhido, lamentar-se pelo decidir, enchergar apenas de acordo com a sua propria verdade, mas quantas verdades existem?
Verdade ou mentira; querer ou nao querer?
Ser belo ou feio?
O que querem as pessoas...

A Revolução Freudiana hoje.

Plinio Montagna Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Ex-presidente da Associação Brasileira de Psicanálise.